“A crise psicótica esgarça a trama tecida pelo tempo, irrompe, rompe, paralisa, impõe
seu tempo, sua realidade, seu princípio de “irrealidade”. A psicose nos defronta com o
problema da ruptura: o diálogo interior entra em crise, está cindido, feito em pedaços,
fragmentado, desmantelado, disperso. A experiência psicótica de um mundo que explodiu em
pedaços é a exteriorização de um cataclismo interior, de um tempo apocalíptico que viola as
barreiras do exterior. Há um momento em que é difícil “situar” os fragmentos, saber se estão
“dentro” ou “fora”; alguns, ligados à função linguística, continuam seu discurso autônomo e
dismórfico, mas “em outro lugar”, em outros espaços, em outros tempos, em outros
“mundos”. Da mesma forma que se perde o horizonte que delimita subjetividade e
objetividade, perde-se também a “objetividade”, o sentido da realidade; os objetos internos se
confundem com os externos, isto é, perdem sua alteridade, alienando a condição de sujeito
pensante e que sente. As noções de alteridade e identidade entram em crise e se extraviam. O
ser, submergido na situação, perde sua visão interior, ponto de partida de uma concepção
ontológica de “homem interior” (Plotino) e do conceito de “insight” (Freud). Na crise se
adquire uma perspectiva espaço-temporal que não segue necessariamente as regras e leis da
geometria euclidiana. As perspectivas, os valores categoriais são “outros”, reinventados ou
diferentes, na situação de crise." (RESNIK, 1986, p. 50).